8.10.09


Era noite, passavam das 22:00 horas, o ano era por volta de 1920. Descia a rua de paralelepípedos alardeada de árvores e postes de luz. Enquanto andava pela rua já com pouco movimento, assobiava uma velha canção que sua mãe cantava quando ele era ainda uma criança. Não se lembrava de quando fora a última vez que a ouvira ou mesmo a cantara. De súbito veio-lhe a música. Envolto a este pensamento veio junto uma sensação de paz e alegria. Sentia-se leve como uma pluma. Ajeitou o chapéu coco na cabeça, segurou em ambas lapelas do paletó e começou a dançar, chovia.

De repente vislumbrou a alguns metros um pequeno aglomerado de pessoas. Percebeu que as luzes das casas se acendiam, portas se abriam e mais pessoas se juntavam àquele grupo. Notou uma certa consternação por parte deles. Alguns sussurros de surpresa. Agitação. Pessoas correndo. Pode ouvir alguém dizer: - Chamem um médico! E outra responder: - Já é tarde. Está morto. O assobio foi-se. A dança parou. A curiosidade agora aguçada. Aproximou-se do grupo, queria ver quem era que estava ali, estirado na rua. Ouviu uma voz: - Estava bêbado. E outro a replicar: - Bêbado??? Estava mesmo era totalmente embriagado. Chamem o rabecão. Enquanto uma senhora gorda, de bochechas rosadas, com cara de matrona e provavelmente moradora das casas ao redor, chorava e com soluços entrecortando a voz dizia: - Coitado! De tão bêbado tropeçou, caiu e bateu com a cabeça no meio-fio. Foi fatal!

Aflito, pois podia ser alguém conhecido, afinal tinha por ali muitos amigos, foi furando o bloqueio de pessoas. Passou uma a uma e ao chegar ao centro, a surpresa, ali, estirado ao chão, jazia seu corpo inerte, agora sem vida.


Texto por Andréa Lima
 
*Curiosidade:  
O chapéu coco é um modelo de chapéu duro, de abas curtas e curvadas. Quando de seu lançamento era predominantemente preto. Sua popularidade se deu no fim da Primeira Guerra Mundial até os anos 50 e 60.
 
Se tornou um acessório icônico do cinema mudo pelo estrondoso sucesso de Charles Chaplin, que o utilizou em diversos filmes. 
 
Hoje o chapéu coco resiste ao tempo e pode ser achado em diversas cores. No link abaixo você encontra em diversas cores: 

7.10.09


Então era isto. Acabara o que nunca existira, ao menos para ele. Ela o amava. Ele gostava dela, mas não a amava. Era algo muito mais carnal. Era uma atração muito forte. Sexualmente se completavam. Ah! E como! - Ele pensava. Lembrava com clareza todos os instantes vividos com ela. O modo como ela o beijava, a forma com que se agarrava a ele com suas pernas enroscando-o como a segurá-lo para que não fugisse, o maneira como se entregou a ele naquele dia sem reservas, dando a ele o que nenhum outro teve ou um dia teria.Ele podia sentir a intensidade do amor dela, mas não podia retribuir da mesma maneira. Se entregou a ela, é verdade, mas porque queria provar o que um amor genuíno podia transmitir e não porque o que sentia era o mesmo.
Ela não estava mais ali. Partira. Entendera que não adiantava lutar por algo que só existia nela. No entanto, agora, ele ali, deitado abraçado a uma outra pessoa, que escolhera para amar, pensava nela, sentia falta do que ela lhe dera. Seu coração, seu pensamento não estavam naquele quarto, estavam em um hiato do tempo, em um breve momento entre o passado e o presente. A voz de sua companhia, aquela ao seu lado, que escolhera para dar o melhor de si, vinha agora cortar seus pensamentos, chamando-o de volta a estar com ela. Virou-se e começaram a se amar, mas enquanto fazia amor com ela era a outra que estava em seu leito. Então caindo em si, percebeu que havia algo errado, não era esta, mas aquela que amava, mas era tarde. Ela já não estava lá.

"Assim ela já vai
Achar o cara que lhe queira
Como você não quis fazer

Sim, eu sei que ela só vai
Achar alguém pra vida inteira
Como você não quis

Tão fácil perceber
Que a sorte escolheu você
E você cego nem nota"



Trecho da música Acima do Sol - Skank

Texto por Andréa Lima

29.9.09

Doce Sono

Ela acordou como de costume. Levantou-se, cuidou de sua higiene pessoal. Acordou o marido e os filhos. Passou o café e arrumou a mesa. Sentou-se com sua família para o desjejum. Observava cada um.
Quantos anos de casada mesmo? Vinte quatro e neste ano completaria vinte e cinco anos. Já estavam preparando a festa. Ela o fitava, fizera uma ótima escolha. Nestes vinte quatro anos passaram muitas coisas juntos. Momentos de crise e um quase divórcio, mas com o tempo, e a maturidade, acerto de arestas e o amor, o casamento solidificava e este último, o amor, crescia. Nem mesmo um caso extraconjugal do marido foi capaz de derrubar os alicerces que ambos construíram com tanto amor e respeito. E afinal o perdão servia para tocar o barco para frente. Fizera bem em lhe dar uma segunda chance, como era lindo o seu marido, mesmo que só aos olhos dela. Passara agora a observar o seu filho mais velho, vinte e três anos e já encaminhado na vida. Estava noivo e de casamento marcado. Fizera faculdade de direito e logo após tentara um concurso público e passara. O filho mais novo dera muito trabalho, síndrome do filho caçula, diziam, era o sonhador da casa, mas aos vinte e dois anos terminara a faculdade de gastronomia e estava com viagem marcada para a França com intuito de aprimorar seus conhecimentos e talvez ficasse por lá. Enfim o ciclo estava se completando.
Fizera um bom trabalho. Sorria enquanto pensava e recolhia da mesa os utensílios usados no café. Na porta despediu-se de seus filhos com um abraço afetuoso e terno e um beijo delicado. No seu marido deu um beijo longo e cheio de amor e paixão. Abraçou-o e o apertou contra si. Fechou a porta, voltou para sua cama, deitou-se, fechou seus olhos e com um sorriso no rosto, partiu.




Texto por Andréa Lima - Criado em 29/09/09

3.9.09

Em Tempos de Politicamente Correto

Brasileiro tem em suas veias uma grande quantidade de sangue cômico. Ri-se de tudo e de si mesmo. Dia desses, numa de minhas viagens de ônibus rumo à minha residência, enquanto observava o movimento da rua pela vidraça um tanto suja do lotação me deparei com uma cena inusitada: parado bem na esquina um carrinho de churrasco conduzido por um afrodescendente, que também preparava os churrasquinhos e no carrinho era anunciado em letras grandes e amarelas: "CHURRASQUINHO DO ALEMÃO".


Texto de 2007, quando eu ainda morava em Vila Velha/ES.

21.8.09

Earth Mother Water - Carlinhos Brown

Everything is changing
Can’t you see?

Clima traz o clima
Clima delicado
Olha a natureza
Tem nos aturado
Tá tudo inundando
Tá tudo mudado

Olhe para a frente
Olhe para o lado
Olhe para o mato

Delicate
Nature
Climate change
Are you satisfied?
We have to do something
Now

Mother water earth
Mother water earth
Mother water
Earth mother water

Tá se alastrando
Tá perdendo o tato
Tá se reclamando
Do consumo farto

Olhe o carbono
Olhe o céu doente
Olhe para cima
Olhe para a gente
Olhe para a frente

Mother water earth
Mother water earth
Mother water
Earth mother water

Preserve our lan

Para ver o Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=tISTFMVxLIo

Ou preservamos ou se acaba e acabamos junto com ela.

19.8.09

Teias da Vida – Andréa Lima

Teias
Vidas traçadas
Entrelaçadas e rabiscadas.

Teias
Redes armadas
Prontas para a cilada.

Teias
Emaranhados novelos
Zeloso desfecho.

Vidas
Teias tecidas
Ao longo da estrada.

Vidas
Teias de encontros
E de tantos desencontros.

Vidas
Teias de histórias
Que se cruzam nas vias.

Publicado no Sem Pretensão em 03/04/2008.

11.8.09

MANIFESTO


Onde andam as pipas que enfeitavam o céu no mês de agosto?
E as amarelinhas que as meninas pulavam com tanto gosto?
Onde andam as cabras-cegas? Os pique-esconde?
Pera, uva, maçã ou salada mista?

Aonde vai a infância perdida?
Se perderam na precocidade das maquiagens estampadas em rostos infantis.
Se perderam na internet e em seus jogos de rede, onde o pique-esconde envolve guerrilhas como se o mundo precisasse de mais na ficção tendo tantas na realidade.
Se perderam na esquina do bairro de classe média alta e também no beco da miséria, onde a bala não é de doce mas de chumbo. Onde o excitamento de uma caixa de bombom virou excitamento por causa do pó, do crack e de outro tipo de "chocolate" e a brincadeira de passa anel virou sinônimo de bordel e a única coisa que passa é a idade e a vida de quem pasta.

Quero de volta a brincadeira de roda. O rouba-bandeira.
Quero de volta o riso ingênuo de uma infância que não existe mais.
Deixo meu manifesto, o meu protesto contra aqueles que roubam de nós, diariamente, as nossas crianças, a nossa infância e que leva de todos a esperança.


NÃO A PEDOFILIA!
NÃO A PROSTITUIÇÃO INFANTIL!
NÃO A CRIANÇAS NO TRÁFICO!

10.8.09

MUTAÇÃO


O tempo não apaga as lágrimas de um coração que chora,

subverte-as em um rio que deságua no jardim da vida

e transforma em flores o motivo do dissabor.