Era noite, passavam das 22:00 horas, o ano era por volta de 1920. Descia a rua de paralelepípedos alardeada de árvores e postes de luz. Enquanto andava pela rua já com pouco movimento, assobiava uma velha canção que sua mãe cantava quando ele era ainda uma criança. Não se lembrava de quando fora a última vez que a ouvira ou mesmo a cantara. De súbito veio-lhe a música. Envolto a este pensamento veio junto uma sensação de paz e alegria. Sentia-se leve como uma pluma. Ajeitou o chapéu coco na cabeça, segurou em ambas lapelas do paletó e começou a dançar, chovia.
De repente vislumbrou a alguns metros um pequeno aglomerado
de pessoas. Percebeu que as luzes das casas se acendiam, portas se abriam e
mais pessoas se juntavam àquele grupo. Notou uma certa consternação por parte
deles. Alguns sussurros de surpresa. Agitação. Pessoas correndo. Pode ouvir
alguém dizer: - Chamem um médico! E outra responder: - Já é tarde. Está morto.
O assobio foi-se. A dança parou. A curiosidade agora aguçada. Aproximou-se do
grupo, queria ver quem era que estava ali, estirado na rua. Ouviu uma voz: -
Estava bêbado. E outro a replicar: - Bêbado??? Estava mesmo era totalmente
embriagado. Chamem o rabecão. Enquanto uma senhora gorda, de bochechas rosadas,
com cara de matrona e provavelmente moradora das casas ao redor, chorava e com
soluços entrecortando a voz dizia: - Coitado! De tão bêbado tropeçou, caiu e
bateu com a cabeça no meio-fio. Foi fatal!
Aflito, pois podia ser alguém conhecido, afinal tinha por ali muitos amigos, foi furando o bloqueio de pessoas. Passou uma a uma e ao chegar ao centro, a surpresa, ali, estirado ao chão, jazia seu corpo inerte, agora sem vida.
Texto por Andréa Lima